sábado, setembro 24, 2005

Computadores são apenas auxiliares cognitivos, afirma Pierre Lévy

Durante palestra na Universidade São Marcos, SP, o filósofo disse não
acreditar na inteligência artificial e que está desenvolvendo uma nova
geração de linguagem para a Web, que permitirá aumentar o conhecimento
humano através do ciberespaço.
O filósofo Pierre Lévy, um dos mais influentes estudiosos da cibercultura,
participou nesta segunda-feira, dia 19, de debate na Universidade São
Marcos. Ele foi o terceiro convidado da série de palestras do Fórum de
Debates Permanente Universo do Conhecimento, cujo tema é "Planeta Terra: um
olhar transdisciplinar". Pierre Lévy é titular da cadeira de Pesquisa em
Inteligência Coletiva na Universidade de Otawa, Canadá. Atualmente, um dos
seus principais trabalhos é constituir uma nova linguagem da Web que permita
a visualização de processos de inteligência coletiva de dados que circulam
no ciberespaço.
"Estamos criando uma nova geração de linguagem para aumentar a cognição",
disse Lévy durante a palestra, que lotou o auditório da Universidade São
Marcos. Ele explicou que esta linguagem terá uma dimensão sintática e
semântica. "Não é sintaxe, mas uma nova sintática. O espaço é semântico,
cognitivo, intelectual, hipertextual, fractal, complexo".
A idéia é que o endereçamento seja feito no espaço semântico, ao contrário
do usado hoje em dia, que é numérico (digital). A novidade complementa seus
trabalhos anteriores sobre as tecnologias da inteligência, a engenharia do
conhecimento, a dinâmica ideográfica e as árvores das competências. Partindo
do tema da palestra "Desenvolvimento Humano, Ciberespaço e a União do
Conhecimento", ele chamou a atenção para a correlação entre desenvolvimento
humano e as ciências humanas ou sociais.
Para o filósofo, há uma relação triangular entre desenvolvimento humano,
ciências humanas e o ciberespaço. A finalidade das ciências humanas é
sustentar o processo de desenvolvimento humano e a do ciberespaço é a
possibilidade de viver a inteligência coletiva, que ele define como a
capacidade de trocar idéias, compartilhar informações e interesses comuns,
criando comunidades e estimulando conexões.
O grande problema é reutilizar o conhecimento que funciona localmente para
ser compartilhado entre todos. De acordo com ele, as ciências sociais não
dialogam entre si, diferentemente das ciências naturais. "Um físico pode
dialogar com outro em qualquer parte do mundo porque eles têm a mesma
linguagem". A resposta é o ciberespaço. "Mas não é a solução, é apenas uma
ferramenta para nos esforçarmos para reunir as ciências humanas, elementos
importantes para o desenvolvimento humano", disse.
Partindo do primeiro sistema de escrita universal, o alfabeto, que permitiu
o desenvolvimento das civilizações, ele chegou à invenção da imprensa para
explicar o grande salto dado na evolução humana. "A imprensa deu suporte
para novos sistemas de cognição". Para ele, as inovações lingüísticas são
sistemas de representações que acarretam progressos imensos. "Os sinais
transmitidos e compartilhados pelos seres humanos hoje em dia são sinais
ubíqüos, interconectivos e que provocam ação e reação autônomas".
Dentro do ciberespaço, é possível acessar dados em tempo real, as
publicações podem ser imediatas e equipes de vários países podem trabalhar
em conjunto. "Tenho razões para crer que as ciências humanas devem provocar
uma revolução, que já está em marcha graças ao uso do ciberespaço, um
observatório do funcionamento da sociedade humana".

Do transistor à Noosfera
Para Lévy, a utilidade dos computadores foi dada não pela descoberta dos
transistores, mas devido à existência de uma linguagem formal própria para a
máquina. Com a criação do micro chip e do PC, vieram os servidores e a
Internet. Depois, a Web permitiu a interconexão por meio dos links. Hoje,
diz ele, estamos na etapa da Web semântica, onde funcionam sistemas de
pesquisa de informações mais potentes, das conexões sem fio como a Wi-Fi
(termo que surgiu das palavras "wireless fidelity). "A Web semântica
expressará a inteligência coletiva da humanidade interconectada no
ciberespaço", disse ele.
O futuro da Web semântica é chegar ao que Lévy chama de Noosfera, ou seja, o
aumento da linguagem cognitiva ou a visualização em tempo real da dinâmica
global da inteligência coletiva. Lévy concluiu a palestra dizendo que sua
intenção não é desenvolver a inteligência artificial, mas a inteligência
ampliada, pessoal e coletiva. "Não acredito na IA. Os computadores sempre
serão auxiliares cognitivos para indivíduos ou grupos. A máquina faz o papel
do assistente cognitivo mais poderoso. O que quero é ver o progresso da
informática para o aumento do conhecimento humano", finalizou.
(Assessoria de Imprensa da Universidade São Marcos)

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